segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Existe Poesia?




















Adultos Vladmir Maiakóvski
(Tradução de Haroldo de Campos)

Os adultos fazem negócios.
Têm rublos nos bolsos.
Quer amor? Pois não!
Ei-lo por cem rublos!
E eu, sem casa e sem tecto,
com as mãos metidas nos bolsos rasgados,
vagava assombrado.
À noite
vestis os melhores trajes
e ides descansar sobre viúvas ou casadas.
A mim
Moscou me sufocava de abraços
com seus infinitos anéis de praças.
Nos corações, nos relógios
bate o pêndulo dos amantes.
Como se exaltam as duplas no leito do amor!
Eu, que sou a Praça da Paixão, (1)
surpreendo o pulsar selvagem
do coração das capitais.
Desabotoado, o coração quase de fora,
abria-me ao sol e aos jactos d’água.
Entrai com vossas paixões!
Galgai-me com vossos amores!
Doravante não sou mais dono de meu coração!
Nos demais - eu sei,
qualquer um o sabe -
O coração tem domicílio
no peito.
Comigo
a anatomia ficou louca.
Sou todo coração -
em todas as partes palpita.
Oh! Quantas são as primaveras
em vinte anos acesas nesta fornalha!
Uma tal carga
acumulada
torna-se simplesmente insuportável.
Insuportável
não para o verso
de veras.

(1) Antiga praça de Moscou, atual Praça Púchkin.

2 comentários:

Valkyrie disse...

Olá! Pois é, infelizmente não há muita coisa que possa ser feita no sentido de abrir as mentes alheias.

Se existe a poesia? Não sei. O que é poesia, afinal? O farfalhar das árvores pode ser poesia para ti, enquanto para mim um sussurro ao pé do ouvido, ou apenas um olhar. As palavras tentam toscamente traduzir os sentimentos. Mas apenas elas não bastam. E apenas elas podem traduzir o insuportável, o intraduzível, o indizível e outros íveis... A poesia nos últimos tempos tornou-se insuportável para mim. As minhas reflexões delirantes me bastam. 'Insuportável
não para o verso
de veras.'
Entendeu? Não? Nem eu. o_O

Valkyrie disse...

É que não costumo mudar o que escrevo, nem reler. Por isso saem coisas toscas desse tipo...