quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Cotidiano



....Todos os dias minha companheira acorda e faz o mesmo ritual. Puxa o cobertor me deixando de cueca, isso me deixa muito irritado e me obriga a levantar da cama. Seu hálito é impressionante mesmo após uma noite de sono e o seu beijo equilibra meu humor. Tomo meu banho, um café e ela me oferece o mesmo beijo mecânico com um gosto de proteção. No trabalho questiono o sentido da vida, sinto o peso da contrariedade envelhecendo minhas células. O almoço logo chega interditando o gosto das horas. Quando chego do trabalho ela me espera no portão, sinto sua pele, sua boca, me perco em sua imensidão. Nos deitamos e tudo o que era incerteza encontra sentido. Ela pede pra eu não me afastar. E por esta noite agüento mais um dia...

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Enterrei um beatnik no meu quintal

Hoje como dia dos mortos merece uma homenagem:
Cuidado com os beatniks pois eles podem 'foder' com a sua visão de mundo. E como já estou domesticado pelo trabalho, ou melhor, fui obrigado a me domesticar para sobreviver, o estilo de vida dos beat's só traria ploblemas hoje. A não ser que eu adotasse a leitura feita dos caras no final dos 60’s e início dos 70's, com cebelos compridos, muitas drogas, e paz/ amor. Mas sei que isso hoje garante subsistência somente vendendo pulseirinha em praia....
bom, preciso de diversão e ultimamente tenho encontrado bons momentos na leitura de livros como 'Almço Nu', 'O Uivo', 'Junky', sem contar a literatura americana dos 30's: a trilogia - Trópico de Câncer, Trópico de Capricórnio e Primavera Negra. É sempre bom ver como os escritores americanos tem base pra construir com substancia belíssimas opiniões sobre os estilo americano de vida: “(...) Americanos morrem de medo de abrir mão do controle, de deixar as coisas acontecerem por si sós, sem interferência alguma. Se fosse possível, entrariam dentro dos próprios estômagos para digerir a comida e depois enfiar a merda para fora usando pás.” trecho de 'Almoço Nu' de William S. Burroughs.
Burroughs tinha uma visão muito otimista da leitura: "Acho que as pessoas nunca vão abandonar totalmente a leitura. Nada substituirá a literatura: nem o vídeo, nem o cinema. Por outro lado, a fórmula novelística está ultrapassada, e se não houver coisas interessantes nessa área, as pessoas estarão cada vez mais lendo só livros e revistas ilustradas, histórias em quadrinhos. Há coisas que você não consegue numa tela ou num filme. Já com um livro as pessoas podem sentar-se em qualquer lugar e é como se um filme estivesse passando em suas cabeças". Bom é uma pena que ele nao viveu até o momento pra acompanhar a disseminação da cultura da imagem, dos telefones com câmeras, de páginas inúteis e sem fim do hipertexto que mostram que a leitura ficou em segundo plano. Mas como tudo tem seu lado positivo, fico feliz de saber que minha próxima visita ao 'sebo' vai ser muito proveitosa. O lugar não é mais freqüentado, foi esquecido assim como os velhos decrépitos que lá estão gravados na celulose.
Hoje posso dizer que alcancei a segurança do trabalho e a estabilidade do capital. Chego a está conclusão e daí me deparo com isso,
''Segurança, a máscara amigável da transformação. Para a qual sorrimos, sem vermos o que sorri por trás dela.'' (Edwin Arlington Robinson)
Realmente hoje foi um dia difícil, e acabo de perceber que desenterraram o beat do meu quintal, pois meu cachorro está com um fêmur na boca.

William S. Burroughs (1914-1997)